Carlos Moreira
Há homens que querem ser Rei; sobrepujar-se, engrandecer-se, ter poder e riquezas. Eles possuem esse desejo incontido de chegar ao topo, de ir além das fronteiras, acima do último limite. Desejam ser servidos, reconhecidos, ser, inclusive, reverenciados. Um Rei pode fazer qualquer coisa! Ele não precisa perguntar nada a ninguém. É ele quem manda e, no final das contas, quem decide. Um Rei senta-se no trono, coloca sobre a cabeça sua coroa, na mão um cetro de ouro e no dedo o anel de majestade.
Há homens que querem ser Deus. Para estes, ser Rei não é o bastante, é preciso ir além, na direção do inalcançável, quem sabe, transcender! Isto foi muito comum na história dos povos, onde a deificação de homens comuns os transformou em deuses. Assim foi entre os egípcios, com seus Faraós, entre os gregos, com seus deuses do Olimpo e também entre os romanos, com seus Césars. Entre os Hebreus, conforme o relato da Torre de Babel, vemos homens comuns que alimentaram o desejo de chegar aos céus, ultrapassar a última fronteira, ser como Deus.
A verdade é que há no espírito humano este desejo de tornar-se divindade, de não ser contido por qualquer limite, de inventar, moldar coisas novas. Criamos a imprensa, o telefone, a energia, máquinas das mais diversas, carros, navios e, por fim, quisemos voar. Em pouco tempo, o globo tornou-se pequeno, com aviões indo e vindo de um lado para o outro. Aí pensamos: “por que não sair dele?”. Então, fomos à Lua! Hoje, nossos foguetes vão ainda mais longe. Um dia, quem sabe, poderemos viajar por todo o universo.
Mas não ficamos por aí. Manipulando a natureza criamos combustíveis, aproveitamos o ar, o sol e o curso dos rios para produzir energia, extraímos das plantas medicamentos e desenvolvemos a tal nível a medicina que já podemos curar doenças e transplantar órgãos. Desenvolvemos os computadores, inventamos o celular, criamos satélites, estamos desvendando os segredos do DNA e avançamos no mapeamento do Genoma. Fosse tudo isto pouco, agora queremos clonar a nós mesmos! O homem criando o homem e dando-lhe vida. Chegamos a ser como Deus?
"Todo homem quer ser rei; todo rei quer ser deus; mas só Deus quis ser homem”. Galilleu Gallilei. Frase intrigante... Mas Deus não quis só ser homem, quis ser homem comum, sem beleza, sem realeza, homem de carne e osso, com sangue e suor. Questiono-me: por que Ele fez isto? Para que? Se já era Deus, por que tornar-se homem? Já não tinha tudo! Faltava-lhe algo? Onipotente, onipresente, onisciente! Por que Deus quis ser homem?
Eu lhes digo, utilizando Isaías capítulo 9 que, em primeiro lugar, Deus quis ser homem para poder identificar-se comigo e com você. “povo que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte resplandeceu-lhes a luz”. v.2.
O Deus que encarna é o Filho. Ele veio para mostrar-nos como é o Pai. Havia entre nós profunda separação, enorme abismo, mas Ele, por Sua morte e ressurreição, pacificou nossos corações e nos abriu um caminho para nos reconciliar com o Criador.
Deus quis ser homem para experimentar nossas dores, limitações, medos, contradições, angústias e dilemas. Esvaziou-se a Si mesmo, perdeu Sua divindade, sofreu como homem, morreu como Deus! Era desprezado e dEle fizeram caso. Foi ultrajado, amaldiçoado, caluniado, incompreendido. Sua existência foi dedicada a compadecer-se dos caídos, salvar os oprimidos, libertar os cativos, “apregoar o ano aceitável do Senhor”. Não sei você, mas eu jamais poderia acreditar num Deus que não sangra... O meu, sangrou até a morte, e morte de cruz.
Em segundo lugar, Deus quis ser homem para que fosse possível realizar-se o Plano da Salvação. “porque um menino nos nasceu, um filho se nos deus; o governo está sob os seus ombros e o seu nome será: maravilhoso, conselheiro, Deus forte, pai da eternidade, príncipe da paz”. v.6.
Há algo extraordinário no Plano da Salvação: “o Cordeiro foi sacrificado antes da criação do mundo”. A salvação não é um remendo que Deus fez para recuperar as rédeas do jogo, para colocar o homem de volta no trilho original. Não! O Plano de Salvação não foi uma estratégia corretiva traçada por um ser absorto que, despercebido de sua criação, foi surpreendido pela sua queda. Nunca! O Filho sacrificou-se na “eternidade anterior’, antes de haver mundo e homens sobre a Terra e, só depois disto, Deus o criou, homem livre, leve, solto. Deu-Lhe ainda o poder de fazer suas próprias escolhas, mesmo que elas fossem às piores possíveis.
Mas, no “tempo oportuno”, no momento em que houve a convergência do propósito eterno, Deus encarnou e materializou-se historicamente na figura de Jesus de Nazaré para cumprir o que, antes de todas as coisas já havia sido feito, o sacrifício pelo pecado. A cruz não foi apenas fincada em Jerusalém, na Palestina, mas continua fincada na eternidade, no cosmos, e, por meio dela, reconcilia-se com Deus toda criatura vivente em todos os universos possíveis. “O castigo que nos trás a paz estava sobre Ele e por suas pisaduras fomos sarados”. O grito que ecoou na crucificação, ainda ecoa hoje, em todo o coração que se rende a graça de Deus: “Tetelestai” – Está pago! Está consumado!
Em terceiro e último lugar, Deus quis ser homem para que o homem acreditasse que Ele é Deus. “... o zêlo do Senhor dos exércitos fará isto”. v.7. Disse Jesus: “ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos”. Tudo começou com amor, e tudo terminará com o amor. Deus é amor! Aquele que ama discerne a Deus, é nascido de Deus, Deus está nele e ele está em Deus.
Reconheço que na humanidade tivemos muitos homens sábios, que se sobrepujaram em sua espiritualidade, que se doaram em prol da humanidade, que fizeram sacrifícios extremos e foram exemplo de vida e de perseverança. Mas, tenho também de admitir, ainda que devotando-lhes respeito e admiração, que nenhum deles é o Filho unigênito de Deus! Nenhum deles veio dos Céus a Terra! Nenhum deles encarnou, sendo antes de todas as coisas, Deus! Nenhum disse que era um com o Pai, nem afirmou ser o caminho, a verdade e a vida! Nenhum deles ressuscitou dentre os mortos, e sentou-se a destra de Deus, donde há de vir a julgar vivos e mortos! Nenhum tem poder para perdoar pecados e salvar o pecador. Estou convencido, só mesmo Deus para querer ser homem...
Eu quero lhe desejar um Feliz Natal! Um Natal que te projete para além do Papai Noel, da árvore enfeitada, dos presentes e do peru. Um Natal com consciência, com entendimento e que, sobretudo, produza desdobramentos em sua vida e na vida de todos que te cercam. Eu quero lhe desejar Feliz Natal porque Jesus quis estar entre nós, identificar-se conosco. Quero lhe desejar Feliz Natal porque o nosso Senhor nasceu em Belém, não como Rei, mas como servo, não no palácio, mas na manjedoura. Ele não tinha anel no dedo, mas tinha autoridade nas mãos, não tinha um cetro de ouro, mas um cajado para nos trazer paz, saúde e bem.
Eu quero lhe desejar Feliz Natal porque tenho a convicção de que você, mais do que nunca, compreende que toda festa só faz sentido porque houve cruz, que toda alegria só tem significado porque houve morte, que a vida de todos nós está compreendida entre a manjedoura e o Gólgota, pois todo presente recebido é nada junto do que o Pai nos enviou, e, porque Ele vive, podemos crer no amanhã... Feliz Natal!
Genizah
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