12 de fevereiro de 2019

A delícia e a dor de ter opinião: como Boechat influencia uma geração de jornalistas

A delícia e a dor de ter opinião: como Boechat influencia uma geração de jornalistas
Foto: Reprodução / Facebook
Ter opinião não é um exercício fácil. Ricardo Boechat fazia isso há alguns anos e, como qualquer comentarista, sempre foi criticado. Faz parte do processo de quem é compelido a falar publicamente o que pensa. O jornalista e âncora do Grupo Bandeirantes era uma referência absoluta no assunto. Vinha dele a inspiração para algumas centenas de colegas de profissão, que enxergavam nele um modelo. Contraditório, porém um modelo. Era assim que Boechat era visto. Concordando ou não com as opiniões dele, o jornalista era uma voz que merecia ser ouvida. E olha que não foram poucos os excessos ao longo de uma carreira brilhante.

Não o conheci pessoalmente. Mas sempre quando pensava em rádio, Boechat era a principal referência. Há alguns meses, troquei mensagens de texto pelo celular com o apresentador. À época, o jornalista criticou na rádio a defesa de um político preso, que afirmou que não concederia entrevistas enquanto ele trabalhasse na BandNews. No SMS que enviei, agradeci por tornar pública uma coisa que há muito se sabia: advogados de renome tendem a se sentir maiores do que são. No dia seguinte, Boechat respondeu. Reforçou o que tinha falado e pediu que, sempre que quisesse, entrasse em contato com ele, meu “colega”. Gente como a gente.

Jornalista com longa trajetória, desde o impresso até o rádio e a televisão, Boechat não era unanimidade. E, aparentemente, nunca tentou ser. Batia sem dó nos políticos e criticava duramente os “mal feitos” daqueles que estão no poder. Nos últimos anos, colecionou polêmicas, como o dia que respondeu ao Pastor Silas Malafaia. Ou se mostrou humano, quando falou sobre a depressão que o atingia e o afastou do trabalho por algumas semanas.

Há mais de quatro anos na função de editor, fiz inúmeras seleções de jornalistas e uma pergunta clássica tinha quase sempre a mesma resposta. “Em qual jornalista você se inspira?”, perguntava eu. Ricardo Boechat aparecia com frequência e eram raros os outros nomes a serem citados. A maioria desses jovens jornalistas se acostumou a ouvir o jornalista na BandNews FM ou mesmo no Jornal da Band. A maioria vai levar para sempre seus ensinamentos.

Ao longo desta segunda-feira, foram inúmeras as homenagens não apenas daqueles que conviveram diretamente com ele, mas também daqueles o ouviam diariamente. Que tratavam a dona Mercedes, a “Doce” Veruska e as pequenas filhas como parte da família.

Em maio de 2017, aceitei o desafio de ser colunista de opinião da rádio RBN Digital e do Bahia Notícias. Como tantos outros jornalistas, consumi as mais diversas fontes de informação e de formato para tentar chegar a um modelo “ideal”. Ricardo Boechat foi uma das principais influências nesse processo e, quando faltavam assuntos para emitir opinião, lembrava a naturalidade com que ele falava sobre tragédias como Brumadinho ou absurdos como a eleição no Senado. Diariamente, passei a carregar um pouco do que aprendi apenas ao ouvi-lo.

Passado já algum tempo, o meu modelo está longe de ser perfeito. No entanto, aprendi que ter opinião é uma delícia como tantas vezes era ouvir o que Boechat tinha a dizer. Mas também é uma dor, quando somos obrigados a escrever textos como esse. Por isso é tão difícil dizer adeus a um dos maiores nomes do jornalismo da sua geração. Obrigado, Ricardo Eugênio Boechat.

Este texto integra o comentário desta terça-feira (12) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM, Clube FM e RB FM.

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